Crônica “Feito Dinossauro”, de Ricardo Mituti, é uma das vencedoras de concurso literário

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Em 2015, quando publiquei meu primeiro livro de ficção – o Histórias (Quase) Verídicas -, criei o que chamo de “Projeto Escrita“.

O “Projeto Escrita” é a contabilidade de todas as receitas que recebi com trabalhos no universo da escrita – como escritor, coordenador de Laboratório de Leitura e mediador de eventos literários, entre outras atribuições -, em relação às despesas que esses mesmos trabalhos me deram e a todo o investimento que fiz nessa carreira.

Em 2017, as receitas superaram as despesas. Mas o rombo dos investimentos era imenso – e o buraco parecia ficar cada vez mais fundo, porque eu insistia em fazer a coisa decolar, de alguma forma.

Vieram os ciclos de Laboratório de Leitura, a partir de 2018. E o cenário começou a mudar.

No final do ano passado, após quatro anos e meio desde o start do “Projeto Escrita“, a carreira finalmente se pagou: o saldo das receitas menos as despesas superou o investimento do período, e a conta finalmente entrou no azul.

Coincidência ou não, um outro objetivo foi conquistado mais ou menos no mesmo período. Mas só agora, após ter recebido uma esperada correspondência, é que tenho condições de torná-lo público: fui um dos vencedores de um concurso literário. Esta foi a primeira vez que minha produção de escritor me rendeu um prêmio.

Uma narrativa de minha autoria, intitulada “Feito Dinossauro”, foi a quarta colocada do I Concurso de Crônicas promovido em outubro pelo grupo cultural Diário da Poesia, de São Gonçalo (RJ).

Segundo o idealizador e coordenador do prêmio e do Diário, o escritor Renato Cardoso, o concurso recebeu mais de 1 mil inscrições, de todo o Brasil e de brasileiros residentes em outros países – número este que me deixa ainda mais feliz com o feito, modéstia à parte.

Recebi certificado e medalha, e minha crônica foi publicada no livro “Almas em Prosa e Verso”, coletânea que reúne os trabalhos dos cronistas, poetas e poetisas vencedorxs do concurso (veja fotos na galeria abaixo). A propósito, este era todo o conteúdo da tão esperada correspondência mencionada parágrafos acima, que só recebi há poucos dias.

Mais do que uma questão de ego ou vaidade, ter sido um dos vencedores de um concurso literário fez-me lembrar que o “Projeto Escrita” está muito além das cifras e planilhas. É, acima de tudo, amor e crença no poder transformador das letras e da literatura.

Muito obrigado a você, que acompanha, consome e divulga meu trabalho na escrita desde 2015. Eu não teria conquistado esses objetivos sem seu apoio!

Leia “Feito Dinossauro”
Se você ainda não leu esta minha crônica, originalmente escrita em 2016, inspirada no meu filho, então aí vai ela, na versão editada vencedora do I Concurso de Crônicas do Diário da Poesia:

Meu celular tocou enquanto eu terminava um relatório. Era Benício.

Estava agitado. Perguntou-me se eu ia brincar com ele quando chegasse. E eu respondi que sim, claro!

Mas Benício não se satisfez. Queria saber do que eu gostaria de brincar.

Ora, do que ele quisesse!

Benício queria brincar de dinossauro. E perguntou se eu brincaria de dinossauro com ele.

Lógico, filho!

Ele chegou dez minutos depois, arrastando a mãe.

Correu ao meu encontro. Procurava pelo pai que prometera brincar de dinossauro assim que ele chegasse.

Pedi um minuto para terminar o relatório. Só que o minuto dele corre muito mais rápido do que o meu.

Benício começou a rabiscar no meu bloco de anotações. Desenhou um quadrado retangular e uma cobra triangular. Sobre minhas anotações. Pediu que eu olhasse.

Olhei de relance e sorri de leve. Mandei que parasse de riscar minhas anotações.

Ele me ignorou. Depois, pediu para sentar no meu colo.

Começou a perguntar quando iríamos brincar de dinossauro. Respondi que esperasse só mais um minuto. Outro.

Benício protestou. E saiu apertando todas as letras do teclado.

Surtei, claro!

Coloquei-o no chão e pedi que esperasse. Disse que não poderia brincar de dinossauro com ele enquanto não terminasse.

Ele retrucou. Respondeu que eu havia prometido brincar assim que ele chegasse. Mas eu não parava de trabalhar. Depois, que pedi um minuto duas vezes. E que muitos minutos já tinham se passado e eu seguia trabalhando. Arrematou perguntando por que eu trabalhava tanto.

Ora, é para te dar tudo aquilo que você quer!

Benício disse que tudo o que queria era que eu trabalhasse menos e brincasse de dinossauro com ele.

Parei. Na hora – ou melhor, com algum atraso. Porque, ainda que muitas vezes eu sequer perceba minha própria ausência, não há dinheiro que, amanhã, poderá comprar o tempo perdido de ontem.

Mas acho que parei, mesmo, porque não quero me tornar um pai extinto. Feito dinossauro.

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