Leituras do Ano: “O Aleph” finalizado

Crônica: Feito dinossauro
11 de outubro de 2016
Leituras do Ano: lista atualizada
14 de outubro de 2016
Mostre tudo

Terminei meu 13o livro de 2016 há duas semanas. Mas só agora consegui parar para escrever sobre ele. Trata-se de “O Aleph” (Companhia das Letras; 2005), do escritor argentino Jorge Luis Borges, com tradução de Davi Arrigucci Jr.

A obra, originalmente escrita em 1949, foi-me indicada pelo meu consultor editorial particular, o mestre e amigo Paulo Tedesco, como parte das nossas aulas de escrita criativa.

Felizmente, só a li agora, depois de alguns meses de curso e de imersão mais profunda na Literatura. E digo “felizmente” porque Borges não é para os fracos. Borges é uma voadora no peito; é nocaute no conhecimento dos incautos.

Senti-me um estúpido, em diversas passagens de “O Aleph”, por não compreendê-las logo na primeira leitura. Vários foram os trechos que precisei reler, duas ou até três vezes, para assimilar a mensagem ou me situar melhor no contexto da história.

Jamais havia lido um autor de ficção, estrangeiro ou brasileiro, que sintetizasse com tamanha maestria tanta cultura, conhecimento e profundidade como Jorge Luis Borges.

Sensibilidade, porém, não me pareceu ser seu forte. Não pelo menos no sentido literal em “O Aleph”. Mas é antagônico a isso o fato de, a cada fim de conto, o leitor sentir-se arrebatado por seus personagens, cenários ou narrativas. Os elementos da escrita de Jorge Luis Borges são cativantes, quase hipnóticos.

“O Aleph” tem 17 contos, considerados pelo próprio Borges, no Epílogo, “peças que correspondem ao gênero fantástico” – exceto por dois deles. E chega a ser assustadora a forma fácil – sim, aqui há mais um antagonismo – como o leitor, se atento à leitura, pode assimilar essas fantasias, muitas vezes enlouquecedoras, e guardá-las para sempre na memória. Isso, para mim, tem nome: genialidade.

Ainda que o próprio autor considere “O Aleph” uma obra de literatura fantástica, ela só tem esse poder de perenidade porque não é do tipo fantástico descartável que qualquer aspirante a autor acha que é capaz de escrever. A literatura de Borges fomenta reflexões, instiga curiosidade e desperta o conhecimento – ou, no mínimo, a busca de.

Jorge Luis Borges fala de morte, imortalidade, universo, religiosidade, labirintos, psique, reis, história de civilizações, crimes e deuses com a habilidade digna de quem tem formação cultural muito, mas muito acima da média. Daí ele não ser, na minha modesta opinião, um escritor para as massas – embora seja um clássico.

Seria cômodo dizer que gostei de praticamente todos os 17 contos de “O Aleph”. Mas tenho de admitir que alguns deles foram demais para minha cota atual de intelecto.

Curioso é que o que mais me agradou foi Emma Zunz – sobre vingança feminina -, um dos dois únicos da obra que, de acordo com o próprio autor, não é criação sua. Borges credita o “argumento esplêndido” da referida história a Cecília Ingenieros, uma bailarina, vizinha dele, por quem se apaixonou e com quem planejou se casar – o que acabou não acontecendo.

De qualquer modo, “O Aleph” é aquele tipo de bibliografia obrigatória de vida. Em especial para leitores vorazes (como eu) e amantes da boa Literatura. E Borges, ainda que não se torne um autor de cabeceira – tamanha a profundidade de sua escrita -, para ser lido com frequência, deveria ter lugar cativo em toda biblioteca particular que se prezasse.

Só faço questão de lembrar, para concluir, que ler Jorge Luis Borges é uma experiência intensa e fora da curva, nada trivial.

Portanto, sugiro que não o leia se não estiver num bom momento de vida. Ou correrás o risco de não querer sequer tocar num outro título, de qualquer outro autor, durante um bom tempo.

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *